terça-feira, 28 de março de 2017

Crônicas da UFT: O Sistema penal e a questão do óbvio.

*Por Pedro Ferreira Nunes

A discussão ocorreu na noite de segunda-feira (20/03) na sala 05 do bloco D. Promovida pela turma do 2º período do curso de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins, da disciplina de Filosofia da Educação comandada pelo Professor José Soares. E contou com a fala do Professor Doutor em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco – André Luiz – que é docente do curso de Serviço Social da UFT no campus de Miracema e coordena o grupo de estudos em Ética e Área Sociojurídica. O evento contou com a participação de um grande numero de estudantes e convidados – que lotaram a sala e tiveram uma participação efetiva levantando questões e fazendo perguntas.

André Luiz que lançou recentemente em parceria com Samuel Correa Duarte o livro “A questão penal e o direito de resistência: Controle, direitos humanos e capitalismo”. Iniciou sua fala fazendo uma retomada histórica de como a questão penal foi sendo vista pela sociedade – Da punição corporal a restrinção do direito de ir e vir. Nessa linha foi destacado as diferentes escolas a cerca da questão penal – os defensores da teoria do livre-arbítrio, os positivistas, a teoria da defesa social e inclusive os que defendem o fim do cárcere – Pelo fato de que a reintegração que defende o estado não funciona na prática. O professor André Luiz chamou atenção para o ciclo básico do cárcere no Brasil – prisão, mundo externo, morte ou prisão novamente. Para fugir desse ciclo só com o apoio da família ou da religião. Logo não se vê a presença do estado através de politicas publicas para efetivar essa reintegração. Nessa linha uma das polêmicas levantada por André Luiz sobre o papel do estado é de que em relação ao combate ás drogas a policia atua apenas como reguladora de preços. Sendo assim, a questão das drogas deve ser vista a partir de uma ótica econômica e não policial.

Sobre o perfil do cárcere no Brasil André Luiz destacou as diferenças entre a prisão federal e nos diferentes estados brasileiros bem como o perfil dos presos. A lógica das prisões federais é de contenção e não de ressocialização, por isso que para lá são mandados os lideres do crime organizado, no entanto, nem sempre é esse o perfil dos presos que lá encontramos. Nos estados o que se destaca são os modelos diversos de gestão, não há, portanto uma padronização – há lugares que a responsabilidade é inteiramente do estado e em outros essa responsabilidade é passada para iniciativa privada e em outros, estado e iniciativa privada atuam em conjunto – este ultimo é o modelo vigente no Tocantins. O que há em comum entre as prisões federais e estaduais é a disputa politica pelo território. Isto é, as diferentes instituições que lá atuam – polícia federal, agentes penitenciários, polícia civil, polícia militar que se digladiam pela maior parte do bolo (gratificações).

Por fim André Luiz abordou a realidade do cárcere, o que fez com muita propriedade, sobretudo por que sua fala não foi apenas a do ponto de vista de um pesquisador, mas pelo fato de ser ex-agente penitenciário, alguém que esteve no cotidiano de uma prisão. Nessa linha ele fez uma critica a formação dos agentes penitenciários – a formação que recebem não os prepara para realidade que encontraram. A verdade é que segundo André Luiz, nenhum profissional que atua nos presídios – médicos, assistentes sociais, psicólogos, professores estão preparados para enfrentar a realidade que encontraram. Ele ressaltou a condição que os profissionais da educação encontraram nos presídios, ou melhor, a falta de condições. Destacou o perfil dos presos e a característica das facções criminosas que atuam nos presídios. E encerrou afirmando que a questão obvia, mas que não é tão obvia assim, é que o cárcere no Brasil é um instrumento de controle e não de ressocialização. Por outro lado ressaltou que se a lei de execução penal fosse garantida na integra causaria uma revolta na sociedade, pois muitos benefícios que os presos teriam, não são garantidos a sociedade extramuros. E deu o exemplo do auxilio reclusão – que não é bem quisto pelo conjunto da sociedade.

A Filosofia e a questão do óbvio

“Sobre o óbvio” é um texto do antropólogo Darcy Ribeiro trabalhado na disciplina de Filosofia da Educação – ministrada pelo professor José Soares, do 2º período do curso de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins. Escrito em 1986 “Sobre o óbvio” aborda a crise educacional no Brasil. Apesar de ter sido escrito a mais de 30 anos o texto é bastante atual, especialmente na conjuntura de retrocessos que vivemos, sobretudo no campo educacional. Ribeiro afirma “a crise educacional do Brasil da qual tanto se fala, não é uma crise, é um programa. Um programa em curso, cujos frutos, amanhã, falarão por si mesmos”. Ora, e o que isso tem haver com sistema penal, com a crise no sistema carcerário? O que isso tem haver com educação, com filosofia? Nos parece óbvio essa relação, mas como tudo que parece óbvio não é tão óbvio assim. Podemos dizer a partir da fala do professor André Luiz e do texto do Darcy Ribeiro que o sistema penal faz parte desse projeto de dominação das elites sobre as classes populares e a crise do cárcere representa justamente os frutos desse modelo de desenvolvimento. Logo, a filosofia tem um papel fundamental no processo de desconstrução dessa visão construída historicamente, que nos faz aceitar como óbvias, coisas que não são tão óbvias assim. A disciplina de Filosofia da Educação tem feito o importante papel no sentido de colocar em pauta o debate de questões contemporâneas como a questão do sistema penal e a crise do cárcere, a pauta feminista, a questão da homofobia entre outros temas. Discussões que são abertas não só para comunidade acadêmica, mas para sociedade em geral. Com isso esta contribuindo para derrubar os muros que separa a universidade da comunidade – uma tarefa mais do que necessária.


*Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 21 de março de 2017

Eleições do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins

Acontece nesta quinta-feira (23/03) as eleições para a coordenação geral do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. A votação ocorrerá das 18h30 ás 21h30 no bloco j e no bloco d (anfiteatro). Para votar o estudante deve está devidamente matriculado no curso de filosofia e comparecer a urna de votação com um documento de identidade – conforme estabelece edital publicado pela comissão eleitoral.

O pleito eleitoral do CAFIL/UFT terá chapa única. Trata-se da chapa “Despertar é preciso” composta por: Aline Aquino estudante do 2º período, Elizamara Silva do 4º período, Kamylla Rodrigues do 1º período, Magna Carneiro do 4º período, Oneide Pinheiro do 6º período, Pedro Ferreira do 4º período, Pedro Luciano do 1º período e Raidon Charles do 4º período.

Propostas da chapa – Despertar é preciso!

A chapa – Despertar é preciso chama atenção para situação politica do país – os ataques do governo Michel Temer (PMDB) aos direitos sociais, especialmente a educação pública. Nessa linha denunciam a situação de abandono que se encontra o campus da UFT de Palmas, tanto do ponto de vista estrutural – salas de aula com ar-condicionado quebrado, Datashow que não funciona, goteiras, banheiros interditado, matagal tomando conta dos espaços, pouca iluminação, copiadora insuficiente para atender a demanda do campus, transporte coletivo superlotado. Como também para a politica de assistência estudantil – a diminuição de bolsas, a falta de pagamento do auxilio permanência há vários meses prejudicando assim os estudantes que necessitam desse dinheiro para sobreviver e manter seus estudos, casa do estudante em estado de abandono, restaurante universitário com o risco de ser fechado entre outros.

Diante dessa conjuntura a chapa – despertar é preciso apresenta como principais bandeiras de luta a defesa de um programa de assistência estudantil para quem de fato precisa; melhores condições estruturais do campus de Palmas para que os estudantes desenvolvam melhor suas atividades; fortalecimento do curso de filosofia; uma sala para o centro acadêmico de filosofia; materiais de divulgação para fortalecer a imagem do centro acadêmico e do curso de filosofia no campus de Palmas; ações culturais para uma maior integração dos estudantes de filosofia com os demais cursos, especialmente de licenciatura e por fim se posicionam contra a reforma do ensino médio e em defesa da universidade pública e de qualidade. A chapa Despertar é preciso buscará inaugurar um novo período do Centro Acadêmico de Filosofia – onde o CAFIL desempenhe um papel mais protagonista no movimento estudantil no campus da UFT em Palmas. Com uma direção que funcione numa perspectiva horizontal – chamam todos os estudantes do curso de filosofia a participar e fortalecer o centro acadêmico. Pois um centro acadêmico forte só é possível com a participação de todos os estudantes do curso.

Por que votar?

Apesar de ter apenas uma chapa é fundamental a participação de todos os estudantes do curso nesse processo. Pois os estudantes do curso de filosofia decidiram sim ou não se querem ser representados pelos integrantes da chapa despertar é preciso. Que só assumirá a coordenação geral do centro acadêmico se 50% mais 1 dos votantes disserem sim para chapa. Outro fator importante é que a votação só será validada se no mínimo 30% dos estudantes do curso de filosofia participar. Mas é importante que todos participem desse processo, pois se não os estudantes continuaram sem representantes nos espaços de discussão e deliberação da comunidade universitária. E que essa participação não seja só votando, mas cobrando posteriormente os seus representantes para que exerçam o papel a que se proporão.


Pedro Ferreira Nunes – É Estudante do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e Integrante da Chapa Despertar é Preciso.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Sobre uma noticia de jornal: Perseguição e Consciência Política no interior do Tocantins


Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Acima de tudo procurem sentir no mais fundo de vocês
qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa
em qualquer parte do mundo.
É a mais bela qualidade de um revolucionário”.
Che Guevara
A noticia é revoltante – nos deixa indignado. Como um gestor público eleito pelo povo é capaz de fazer uma ação de tão baixo nível? Ora mandar tirar uma ponte sobre um rio para prejudicar cidadãos que vivem na zona rural, mais precisamente num assentamento de reforma agrária, não é só absurdo, como é inaceitável. Mas foi justamente isso que fez o senhor Wagner Coelho – prefeito de Formoso do Araguaia. Reeleito pelo PRTB nas ultimas eleições municipais.
A retirada da ponte se deu há 6 meses atrás quando o senhor Wagner Coelho estava em campanha eleitoral pela sua reeleição. O que trás fortes indícios de que a retirada da ponte se trata de perseguição politica a essas famílias que muito provavelmente apoiavam outro candidato. Wagner Coelho acabou sendo reeleito por uma pequena margem de diferença – enquanto obteve 28,76% dos votos validos, o segundo colocado obteve 27,17%.
Apesar de reeleito, o resultado das eleições em Formoso do Araguaia mostra um grande descontentamento da população da cidade com o atual prefeito. Por exemplo, as eleições municipais em Formoso do Araguaia para a prefeitura contou com quatro candidatos, sendo que somado os votos dos três candidatos da oposição, o resultado ficaria 71,24% dos votos validos para oposição contra 28,76% para o candidato reeleito. Isso mostra que mais de 70% dos eleitores de Formoso do Araguaia são contrários a administração do senhor Wagner Coelho. E não é difícil entender o porquê dessa baixa popularidade do prefeito de Formoso, esse episódio de perseguição aos moradores do P.A Lagoa da Onça mostra muito bem – o prefeito administra a cidade como se fosse o quintal de sua casa, isto é, como uma propriedade privada e não como uma instituição pública. Foi por isso que ao seu bel prazer mandou tirar á ponte que liga o assentamento a cidade prejudicando assim as 300 famílias de pequenos camponeses que ali vivem. Outro fato que mostra bem o perfil da administração do senhor Wagner Coelho (PRTB) é a declaração da Secretaria de infraestrutura do município para a equipe jornalística de que irá disponibilizar uma canoa para facilitar a vida das famílias. Como se a disponibilização de uma canoa resolverá a vida dos moradores que precisam atravessar o rio. Sobretudo aqueles que precisam escoar a sua produção agropecuária para cidade.
Apesar de tudo isso, o que nos causa mais indignação não é a atitude do prefeito, infelizmente no Tocantins, especialmente no interior, a perseguição politica não é uma exceção, mas sim a regra. O que nos causa mais indignação nesse caso especifico é a inercia das famílias do P.A Lagoa da Onça e da sociedade formosense, especialmente os trabalhadores. Ora eu não posso aceitar que essas famílias que estão sendo prejudicadas há mais de seis meses ainda não se mobilizaram e ocuparam a prefeitura de Formoso do Araguaia. Eu não posso aceitar que essas trezentas famílias com o apoio de tantos outros cidadãos que com certeza se solidarizam com essa questão, ainda não obrigaram o prefeito a fazer o seu dever, aquilo para que fora eleito – que é cuidar da cidade e daqueles que ali vivem, tanto no campo como na cidade. Eu não posso aceitar que a população de Formoso do Araguaia diante desse episódio absurdo não se mobilize para expulsar da prefeitura esse filhote de ditador.
Por fim, esse episódio e a inercia dos cidadãos diante do mesmo nos mostra o quanto ainda precisamos avançar na formação de uma consciência politica das classes populares no Tocantins, sobretudo no interior, para que extirpemos políticos medíocres como o senhor Wagner Coelho, das câmaras de vereadores, prefeitura, assembleia legislativa, congresso nacional e etc. Políticos medíocres que usam os espaços públicos como se fosse à extensão de suas casas.

Pedro Ferreira Nunes - Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 7 de março de 2017

Manual de sobrevivência em Lajeado



Camarada, 

Você que esta pensando em morar em Lajeado – uma das cidades mais encantadoras desse país – com suas belezas naturais exuberantes. Não se iluda, por aqui não encontrará apenas tranquilidade. É para você que escrevo esse pequeno manual de sobrevivência na nossa pacata (já nem tanto) e amada cidade das águas. Ainda que não pretenda morar por aqui, e esteja, portanto apenas de passagem, apenas visitando, muito provavelmente precisará desse manual. Vamos então a ele.

Serviço de fornecimento de água encanada

Se por acaso faltar água encanada no final de semana não perca seu tempo ligando para ATS (Agência Tocantinense de Saneamento). Por aqui eles não trabalham no sábado, no domingo e nem nos feriados. Se por acaso você der a sorte de ser atendido pelo telefone será para ouvir – não temos previsão para resolver o problema. Para bom entendedor significa – Se vira. Vai banhar no córrego ou no rio. Vai buscar uma lata d´água na ilha verde para cozinhar. Portanto se vier ao Lajeado trate de armazenar água em algum canto, pois não raramente, na cidade das águas, falta água. Não, não é água que falta. O que falta é um serviço de fornecimento de água encanada decente.

Energia elétrica

Traga sempre na sua mochila um maço de vela, lanterna, lampião, lamparina – Qualquer coisa do gênero. Pois se der o azar de um cachorro mijar em um poste, é todo mundo no escuro. Parece irônico que uma cidade produtora de energia, que exporta energia ofereça para os seus cidadãos um serviço de péssima qualidade. Mas é assim aqui no Lajeado – é o tempo fechar (formar uma chuvinha qualquer) que a energia se vai. E não espere o problema ser resolvido tão rapidamente. É melhor você fazer uma fogueirinha no quintal e assar aquela curimatá e comer com farinha de puba tirando o gosto com uma cachaça. Especialmente se for à noite, quando dificilmente as muriçocas o deixaram dormir.

Serviços bancários

Se por acaso você precisar sacar alguma grana no final de semana ou feriado, vai tirando seu cavalinho da chuva, pois por aqui não existe caixa eletrônico. Por tanto você precisará ir até Palmas ou Miracema. Aliás, essa é sina todo final de mês dos servidores públicos no município. Pois mesmo no meio da semana o único lugar que saca dinheiro é a lotérica, no entanto, nem sempre você consegue sacar, pois falta grana. A única agência bancaria no município (a do Bradesco) só esta funcionando para fazer empréstimo. Se essas operações simples não funcionam, imaginem as mais complexas. Por tanto, se você precisar fazer alguma operação bancária, trata de se deslocar para outro município.

Correios e Lotérica

O correio do Lajeado não entrega correspondência e não está operando o banco postal. Logo não perca o seu tempo indo lá para pagar alguma conta ou sacar dinheiro. Se você estiver esperando alguma correspondência, uma encomenda ou um boleto – terá que ir visitar a agência dos correios com frequência para ver se já chegou. A questão dos boletos em especial, é um problema – geralmente só chega atrasado, logo trate de se programar para sempre pagar uma multa por atraso no pagamento dos boletos. Ou ter um gasto adicional puxando pela internet e imprimindo-os. Já sobre a lotérica, por enquanto você ainda consegue sacar algum trocado e pagar suas contas. Mas não vá esperando muita coisa além disso.

Saúde

Aqui no Lajeado tem uma lei que não existe no papel, mas ela esta em vigor. A lei é: Você não pode adoecer no final de semana. Especialmente se for caso de urgência. Pois as unidades municipais de saúde não funcionam. Mas se caso acontecer alguma coisa só resta ligar para o SAMU ti levar em Palmas ou Miracema, pois na cidade não terá atendimento. E se por um azar o SAMU estiver fazendo outro atendimento no mesmo horário ai à coisa se complica. Por tanto se vier para o Lajeado, não vá adoecer final de semana ou nos feriados. No decorrer da semana já é complicado com as unidades de saúde abertas, com essas fechadas então, ai é rezar muito. E ainda tem quem diz que a Saúde no município é a melhor do Brasil – se de fato isso for verdade, não queira conhecer a pior meu camarada.

Turismo

Se você vier fazer turismo na cidade não vá esperando encontrar alguma sinalização ou orientação a cerca dos pontos turísticos ou de como chegar até eles. Guia turístico? Não se iluda, não terá essa facilidade. Terá que se apegar com algum morador de bom coração que conhece o lugar. Para fazer uma trilha na serra você tem que contrata alguns trabalhadores para construí-la antes, já que as trilhas são inexistentes. Mas apesar dos pesares não deixe de visitar a cidade, é de fato um lugar encantador, no entanto, venha como se fosse para o Jalapão, ou melhor, não, sejamos justo, quem vai ao Jalapão encontra uma estrutura de recepção dos turistas bem melhor que em Lajeado. Mas venha, venha preparado que vida fácil não terá.

Atividades culturais

Não vai esperando ter uma vida cultural agitada na cidade das águas. Por aqui há apenas duas opções culturais – bares e igrejas. No fundo os dois servem para mesma coisa, entorpecer as pessoas da dura vida que elas levam. Eis ai, uma coisa que não terá nenhuma dificuldade em encontrar no Lajeado – bares e igrejas. Em qualquer canto da cidade encontrará um dos dois, ou os dois – um ao lado do outro.

Segurança pública

Nossa policia tem apenas a especialidade de bater em bêbado, não há no Tocantins policiais mais preparados para bater em bêbado que os policiais de Lajeado. Mas não é qualquer bêbado, só nos pobres coitados que não tem eira e nem beira. Se você tem grana pode beber e aprontar a vontade – pode ligar o seu carro de som e fazer uma farra em cada esquina. Agora se você for um rodado, prepare o coro. Sendo assim não perca seu tempo chamando a policia para resolver outro problema que não seja bater em bêbado pobre e lascado.

Eis ai, portanto meus queridos camaradas uma brevíssima contribuição para que você não fique completamente rodado quando vier nos visitar no nosso querido Lajeado ou mesmo se estiver pensando em mudar para cá. Que esse manual possa lhe ajudar minimamente a ter uma boa estadia por aqui. Lhe esperamos de braços abertos.

Pedro Ferreira Nunes – Poeta e Escritor popular.

quinta-feira, 2 de março de 2017

NOTA DO COLETIVO JOSÉ PORFÍRIO

TODO APOIO ÁS MULHERES TOCANTINENSES

O Coletivo de Educação Popular José Porfírio vem através desta saudar e declarar o seu apoio a jornada unificada de lutas das mulheres tocantinenses que irão as ruas no próximo dia 08 de Março (dia internacional da mulher) para manifestar contra a violência à mulher, a reforma da previdência do governo Temer, a cultura do estupro e o desmonte das politicas públicas para as mulheres. Com o lema “8M, EU PARO! PARA, TODAS” – As organizações feministas a frente dessa mobilização, entre elas, a Articulação de Mulheres Tocantinenses – AMT e a Casa Oito de Março fazem um chamado a toda sociedade tocantinense contraria a cultura machista que impera no Tocantins a se somar a essa luta.

“Não há o que comemorar no dia internacional das mulheres em 2017, por essa razão, as mulheres de Palmas vão parar. Nossa greve é contra a reforma da previdência, contra a violência à mulher e a cultura do estupro e contra o desmonte das politicas públicas para as mulheres. Para conosco! Para, todas! Para também”.



Sim, nós do Coletivo José Porfírio pararemos também e jogamos adiante esse grito de luta. Para que todas ás organizações populares tocantinenses também pare – partidos progressistas, centrais sindicais, sindicatos, trabalhadores sem teto, trabalhadores sem terra, movimento estudantil. A manifestação de rua acontecerá no dia 08 de Março com marcha e panfletagem a partir das 16h30 e concentração em frente à Assembleia Legislativa e a estação Apinajé. No dia anterior (07/03) terá discussões e importantes debates no encontro da Articulação de Mulheres Tocantinenses que vale a pena participar. Vamos todas e todos! Pois como diz o poeta o fogo que queimou as nossas camaradas e que continua a queimar – “não se esquece: nos aquece, nos anima”.

Coletivo José Porfirio
Lajeado-TO. Lua Nova, Inverno de 2017.

Centenário da Revolução Russa.

Ética e Moral – A Contribuição de Adolfo Sánchez Vázquez.

Ética e moral são palavras da moda, presente nos noticiários, nos discursos políticos, na sociedade como um todo. Não raramente ouvimos alguém acusando outro de uma prática imoral ou de falta de Ética. O que se percebe nessas discussões é que o problema sempre esta no outro e não em nós – é sempre o outro que não tem moral, é sempre o outro que falta com a ética. Essa visão individualista e egoísta, que são traços da moral burguesa, em vez de contribuir para um maior esclarecimento do que seja Ética e Moral, cria mais confusão do que contribuem para um maior entendimento dessa temática. Falta por tanto reflexão sobre esse problema. Com isso a ética tem perdido espaço e a moral tem dominado, e quando as duas se distanciam é um perigo. Pois desse distanciamento teremos por um lado apenas uma ética especulativa desvinculada da realidade, e por outro uma moral estagnada que acaba descambando para o fundamentalismo.

Nesse sentido é importante a reflexão do filósofo espanhol, radicado no México – Adolfo Sánchez Vázquez – a cerca dessa questão. Em “Objeto da Ética” capitulo I do livro “Ética”. Ele abordará a diferença entre problemas morais e problemas éticos. Uma questão fundamental, sobretudo nos dias atuais onde há uma grande confusão a cerca desses termos. Após fazer essa diferenciação, ele tratará do campo da ética, isto é, onde a Ética está localizada, já que veremos que ela não se aplica tal como a moral aos problemas do cotidiano. Já num terceiro momento o autor apresentará uma definição da Ética, fazendo uma diferenciação de ética cientifica e ética especulativa. Num quarto momento abordará a relação da Ética com a Filosofia, ressaltando a necessidade da busca de autonomia da primeira em relação à segunda. E por fim, num quinto momento, abordará a relação da Ética com outras ciências, também deixando claro á necessidade da ética, nessa relação, preservar seus objetivos específicos.

Para Vázquez as questões éticas não diz respeito apenas a nós, mas também a outras pessoas. Logo o que fazer em uma situação concreta, por exemplo, trair, roubar ou matar, é um problema prático-moral e não teórico-prático. Assim a Ética esta ligada a teoria e a moral a prática. A Ética não determina a moral, no entanto a partir da reflexão e da investigação contribui para sua transformação. Nesse sentido percebemos que os problemas Éticos e Morais apesar de se diferenciarem não estão separados por uma barreira intransponível. Um acaba influenciando o outro, por isso não podem se distanciar. Nessa linha Vázquez afirma (2006) que os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade e isto os distingue dos problemas morais da vida cotidiana, que são os que se nos apresentam nas situações concretas. A Ética encontra-se por tanto no campo teórico – a partir daí ela busca explicar, esclarecer e investigar uma determinada realidade. É por isso que Vázquez coloca a Ética no campo cientifico, e assim, “como as demais ciências, a ética se defronta com fatos. Que estes sejam humanos implica, por sua vez, em que sejam fatos de valor”. Vázquez define por tanto, a Ética como a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma especifica do comportamento humano.

O autor vê uma relação estreita da Ética cientifica com a Filosofia, porém não qualquer filosofia, por exemplo, ele critica a filosofia especulativa por tentar submete-la e constitui-la sem levar em conta a ciência e a vida real. Para Vázquez (2006) “uma ética cientifica pressupõe necessariamente uma concepção filosófica imanetista e racionalista do mundo e do homem, na qual se eliminem instâncias ou fatores extramundanos ou super-humanos e irracionais”. Logo a ética, mesmo buscando a sua autonomia, não pode deixar de ter como ponto fundamental a concepção filosófica do homem. Para Vázquez a Ética se relaciona também com outras ciências que estudam o comportamento humano, por exemplo, a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia. Porém o autor ressalta que não podemos esquecer os objetivos específicos da ética quando a relacionamos com estas outras ciências.

Ao refletir sobre a contribuição do filósofo Adolfo Sánchez Vázquez a cerca da questão ética e moral, percebemos que atualmente caminhamos justamente ao contrário do que ele nos propõe, isto é, olhar a ética a partir da ótica cientifica, e a moral por sua vez como o seu objeto de estudo. Enquanto não nos atentarmos para isso continuaremos caindo num debate raso do que é ética e do que é moral. Sempre fugindo da raiz do problema.

Pedro Ferreira Nunes – é estudante de Filosofia da UFT.

Referência Bibliográfica

Vázquez, Adolfo Sánchez. Ética. 28º Edição. Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro. 2006. Pag. 15 a 34.