quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Ida ao salão do livro do Tocantins

Apesar de ser um amante dos livros, da literatura – tanto que acabei me enveredando pela poesia e pela prosa – nunca havia ido a um encontro literário. Mas ao tomar conhecimento da realização da 9º edição do salão do livro do Tocantins. Vi que era a oportunidade de viver essa experiência. E assim eu fiz – joguei uma mochila nas costas, peguei um ônibus e segui rumo ao parque do povo – centro de convenções de Palmas onde estava sendo realizado o evento.

Tal como muitos amantes dos livros – estudantes, músicos, atores, poetas e escritores tocantinenses – recebi com muita empolgação a noticia da realização da 9º edição do salão do livro, ainda mais após dois anos sem o mesmo ser realizado. Pois nós que sabemos da importância da leitura e ousamos fazer literatura nesse país – um país onde à leitura não é levada a sério. Não podemos negar a importância do salão do livro para construção de uma cultura literária no e do Tocantins.

E foi com toda essa empolgação que fui ao salão do livro, participar do primeiro evento literário da minha vida. E não me arrependi, ao contrario, enlouqueci. Fiquei louco diante de tantos livros – nunca havia visto tanto livro na minha vida. Ali no meio daquele tanto de livros – eu me sentia como uma criança numa fabrica de chocolates ou num parque de diversão. Como uma mulher consumista num shopping center ou melhor – um cão faminto diante de uma vitrine de carnes num açougue.

- Ah, como queria ter muita grana para comprar muitos livros – um caminhão de livros. Diante disso ficar ali passou a ser uma tortura – ver e não poder levar – não poder levar tanta coisa boa que não encontramos no dia a dia. Mesmo sem muita grana consegui comprar alguns livros – coisas finíssimas que há muito tempo procurava – mas eu queria muito mais. E foi por isso que tive que sair dali rapidamente para não enlouquecer mais ainda.

Mas a verdade é que foi uma experiência incrível a minha ida na 9º edição do salão do livro do Tocantins – um amante de livros tal como sou não poderia ser diferente. Imagino o tanto de gente que não teve a mesma sensação. Especialmente as crianças e jovens que por ali estiveram pela primeira vez. Espero que este importante evento nunca mais saia do calendário de atividades realizadas pelo governo do Tocantins.

O salão do livro é um patrimônio do povo tocantinense – um instrumento importantíssimo para construção de uma cultura literária no e do Tocantins. E por isso precisa ter continuidade independente do governo de plantão. Aliás, que o salão do livro seja uma politica de estado e não de governo. E que os organizadores possam a partir do ano que vem fazer ações para interiorizar o salão do livro.

Pedro Ferreira Nunes é poeta, escritor e educador popular.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Patrimônio histórico e cultural na serra do Lajeado esta ameaçada de acabar em até 10 anos

O alerta foi da Arqueóloga Drª Julia Cristina de Almeida Berra do IPHAN, numa palestra sobre a arte rupestre da serra do Lajeado, no encontro internacional de arte e cultura realizado nos dias 17 e 18 de setembro na cidade de Lajeado do Tocantins. A Drª Julia Cristina afirmou que o estado de conservação das pinturas rupestres é péssimo e com mais duas queimadas, tal como a que aconteceu recentemente no município, essas pinturas poderão desaparecer.

A arte rupestre da serra do Lajeado é um patrimônio histórico e cultural pouco conhecido pela população tocantinense, desconhecida, sobretudo, pela população que vive na região onde se encontra os sítios arqueológicos. Desconhecimento que tem levado a destruição dessa riqueza.

Os estudos que levaram a descoberta dos primeiros sítios arqueológicos nessa região iniciaram-se com a construção de Palmas. Hoje existem 52 sítios ao todo. A arte rupestre encontrada na serra do Lajeado tem como característica a variedade de pinturas, algo que não se encontra em outros sítios arqueológicos pelo Brasil. Essa característica também mostra que a região fora habitada por povos nômades diversos.

Não há estudos que apontam quem fez estes desenhos. Ou que aponta um período preciso de quando foram feitas. Alguns são bem antigos, outros mais recentes. Pesquisadores acreditam que estes desenhos podem ter sidos produzidos entre 12 a 7 mil anos. O fato desses povos terem sido exterminados dificulta os estudos para saber a origem dessa arte.

Descaso do poder público, Falta de estrutura para fazer pesquisas e poucos profissionais

Essa é a realidade de quem faz arqueologia no Tocantins, como bem colocou o professor Drº Marcos Aurélio Câmara Zimmermann da UNITINS. Na discussão sobre artefatos líticos e cerâmicos com o professor Drº Marcos Aurélio ficou claro que o descaso do poder público, a falta de estrutura para fazer pesquisas e a escassez de profissionais reflete no fato de que não é possível dar conta da demanda existente no Tocantins.

A discussão mostrou também a responsabilidade da comunidade na proteção desse patrimônio histórico e cultural. No entanto para que a população possa desempenhar este papel é preciso que ela tome conhecimento disso – da importância dessas riquezas históricas. Dai a necessidade da educação patrimonial nas escolas. Mas cabe ao poder público garantir através de leis a estrutura adequada para concretizar essa proteção.

Outra questão importante colocada pelo professor Marco Aurélio foi à necessidade da construção de um museu na cidade de Lajeado para que os objetos explorados nos sítios arqueológicos da cidade, que estão hoje num museu em Porto Nacional possam retornar para Lajeado. É preciso também que a câmara de vereadores aprove o quanto antes leis para garantir a preservação do patrimônio histórico e cultural tal como foi feito em outros municípios tocantinenses, por exemplo, Palmas e Gurupi.

O quadro apresentando pela Arqueóloga Julia Cristina e pelo Professor Marcos Aurélio sobre a situação da arqueologia no Tocantins – arte rupestre e os artefatos líticos e cerâmicos – não é nem um pouco animador. O risco da perda desse patrimônio histórico e cultural é eminente. Especialmente a arte rupestre. Nesse sentido é fundamental que o poder público e a comunidade tocantinense em geral despertem para necessidade de preservarmos essa riqueza. Riqueza que pertence a todos nós. E que é preciso que nos apropriemos dela de forma consciente – nas escolas, nas universidades, entre outros espaços – para podermos preserva-la.

O encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado

Além da discussão sobre arte rupestre na serra do Lajeado e dos artefatos líticos e cerâmicos nos
sítios arqueológicos do município de Lajeado. Discutiu-se a cosmologia do povo xerente, a necessidade da educação patrimonial nas escolas e o nucleamento inicial de Lajeado a partir de 1850.
Realizou-se também no encontro oficinas de argila, cestaria, fantoche e lítica. Apresentações culturais das escolas – teatro e dança. Apresentação de artistas populares – musica, literatura de cordel, fantoches e exibição de filmes.

A exposição de artefatos líticos e cerâmicos de Lajeado organizado pelo Núcleo tocantinense de arqueologia foi um dos pontos altos do encontro. Como também a exposição dos trabalhos artesanais feitos pela Associação das Mulheres Artesãs.

Aliás, o encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado foi organizado e realizado pela Associação das Mulheres Artesãs – AMAE. E foi com certeza um marco importante para cultura da cidade de Lajeado como também do estado do Tocantins. Resgatar a historia do município e preservar o patrimônio histórico e cultural invejável que o Tocantins possui, e especialmente a cidade de Lajeado, é dever de toda a sociedade. E este encontro realizado pela AMAE foi com certeza o primeiro passo nesse sentido.

Diante disso é fundamental que outras edições desse encontro possam se realizar, para que a cada ano possamos discutir, debater e apontar – sociedade e poder público – ações para preservar esse patrimônio histórico e cultural.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Breve reflexão sobre o processo das conferências públicas no Brasil



Não é de hoje que tenho uma posição critica as conferências realizadas pelo poder público tanto a nível regional como nacional. Especialmente a partir do momento que tomei conhecimento de que as políticas aprovadas coletivamente nestes espaços são simplesmente engavetadas pelos governos de plantão. Podemos apontar um exemplo emblemático – a conferencia nacional de comunicação realizada em 2010, onde uma série de questões para democratização da mídia no Brasil – foram aprovadas, mas cinco anos depois, nenhuma saiu do papel.

Há vários outros exemplos, o que careceria de um estudo mais aprofundado para aponta-los, o que não é o objetivo desse breve artigo, fica ai por tanto a tarefa para nossa academia. O que proponho aqui é uma breve reflexão sobre o processo das conferencias – se de fato estão cumprindo o seu papel que é de debater, propor e elaborar coletivamente politicas públicas para melhorar a vida da população. 

Ora, se as decisões levantadas nestes espaços são simplesmente engavetadas não é desperdício de dinheiro público a sua realização? Pois é de conhecimento de todos que não é barato o custo para realização das conferencias – gasto com material impresso, camisetas, transporte, alimentação, hospedagem entre outros. Tudo isso com recursos públicos para realizar uma farsa, pois infelizmente é isto que tem caracterizado estas conferências públicas. 

Outro fator a se refletir é a participação da sociedade civil organizada neste processo. Uma participação mínima. E isso é reflexo da falta de credibilidade da população neste espaço como um instrumento para construção coletiva de politicas públicas para melhorar a vida da comunidade. Nas conferências municipais, especialmente no interior essa realidade é ainda pior, poucas pessoas da sociedade civil comparecem, e os que lá vão, não participam ativamente, ficam apenas aplaudindo e levantando crachás.

Nas poucas conferências públicas que tive a oportunidade de participar como a de juventude nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia e das cidades em Palmas o maior numero de participantes são de burocratas ligados ao serviço público. São eles que coordenam e dirigem os trabalhos, são eles que propõem as politicas que devem ser aprovadas e são eleitos como delegados. Na maioria das vezes propostas rebaixadíssimas que mesmo assim não são colocadas em praticas – tanto no município, nem no estado e pior ainda a nível nacional.

Em uma conversa recente com uma servidora pública do município de Lajeado – ela comentava que não via sentido na realização da conferência municipal de assistência social na cidade, pois não via sentido perder tempo discutindo, elaborando e aprovando propostas que já mais seriam colocadas em praticas pela prefeitura municipal. Ela dizia saber muito bem disso, pois havia participado da conferência anterior que não tinha dado em nada.

Foi a partir desse dialogo e do acompanhamento de duas conferências públicas que se realizaram recentemente no município de Lajeado (assistência social e segurança alimentar). Que reavivou as críticas que trago comigo já há algum tempo a cerca do processo das conferências públicas no Brasil. Crítica que se tornou mais contundente ao presenciar como se dá este processo no interior – assim podemos afirmar – se nas grandes cidades as conferências tem todos os problemas que já relatamos a cima, imaginem no interior do interior do Brasil.

No Lajeado, por exemplo, grande parte das pessoas que foram convidadas se quer sabiam que iriam participar de uma conferência pública municipal ou pior ainda, não sabiam se quer o que é uma conferência pública. Na conferência de assistência social o convite para os idosos não dizia em momento algum que o evento se tratava de uma conferência, mas sim de um momento de recreação. Já na de segurança alimentar o convite dizia que era para um jantar em homenagem ao dia dos pais. Ora, que contribuição que essas pessoas podiam dar em uma discussão que elas se quer sabiam do que se tratava e  com que proposito se dava. Sem falar na desonestidade e a falta de respeito com essas pessoas que foram ludibriadas a participar dessas conferências.

Estes exemplos mostram que o próprio poder público não leva os processos de conferência a sério, que realizam por realizar, simplesmente para cumprir tabela, já que eles mesmos sabem que nada do que será aprovado ali iram colocar em prática. E se o poder público que é o responsável por efetivar as políticas que são aprovadas nestes espaços não leva as conferências a sério. Qual o estímulo à população tem para participar? E assim segue a realização das conferências públicas no Brasil.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Campos Lindos: Celeiro do agronegócio é a pior cidade para se viver no Tocantins

Plantação de soja irrigada em Campos Lindos
É o que revela o levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisas e Estatísticas Aplicadas) divulgado recentemente. A cidade que esta localizada na região do nordeste tocantinense, na divisa com o Maranhão, tem 9. 408 habitantes, e é uma das maiores produtoras de grãos do estado. No entanto as riquezas produzidas pelo agronegócio em vez de melhorar a condição de vida de quem vive em Campos Lindos e região, simplesmente gera mais desigualdade social.

Este não é o primeiro levantamento que mostra a desigualdade social e a miséria no meio rural tocantinense. Outros estudos já mostraram que o avanço do agronegócio no Tocantins tem gerado mais miséria do que desenvolvimento para população desses territórios. Isso se dá pelo fato de que o modelo de desenvolvimento no campo brasileiro busca o lucro e não a melhoria das condições de vida da população. Um modelo que gera riquezas apenas para burguesia agrária – para as multinacionais que atuam no campo e para os latifundiários.

Com a omissão do estado e a anuência da justiça – vários camponeses perderam suas terras em Campos Lindos para dar lugar à monocultura da soja. Tal politica foi responsável para que o município alcançasse o triste titulo de pior cidade do Tocantins para se viver.  Pois as riquezas produzidas pelo agronegócio bem como o desenvolvimento e o progresso prometido chega apenas para alguns, alguns poucos privilegiados que mantem suas riquezas graças à miséria de muitos.

Recentemente o ministério da agricultura comandado pela senadora Kátia Abreu (PMDB) lançou o programa ‘classe média no campo’, o objetivo segundo a ministra – é combater a desigualdade social no meio rural. O que não passa de marketing politico, um engodo a população campesina. Pois o programa não enfrenta a questão principal que gera a desigualdade e a miséria no campo – que é a grande concentração de terras na mão de poucos. Qualquer programa que não paute uma reforma agrária de fato neste país, não passa de enganação. Não resolve a questão da desigualdade, da violência e da miséria no meio rural.

O levantamento que revelou que Campos Lindos é a pior cidade para se viver no Tocantins. Não nos causa espanto, pois sabemos muito bem a que e a quem serve o agronegócio, e não é aos campesinos ou muito menos ao povo trabalhador das cidades. O que nos causa espanto é o fato de que esse modelo agrícola baseado na grande concentração de terras, na monocultura, na destruição ambiental, na contaminação de alimentos com uso de agrotóxico, no trabalho escravo e na violência contra camponeses, indígenas e quilombolas só tem avançado cada vez mais. Isso sim nos causa espanto.

Por isso gritamos: Para combater a desigualdade social, a miséria a violência no campo – reforma agrária já!

Pedro Ferreira Nunes
Militante do Coletivo José Porfírio

“Reforma agrária é uma luta de todos e aqui de novo viemos reafirmar – uma aliança entre o campo e a cidade, pois a verdade amanhã triunfará. Não adianta inventar outros caminhos,por que já mais vão conseguir nos convencer – capitalismo nunca foi de quem trabalha – nossos direitos só a luta faz valer.”

Zé Pinto

terça-feira, 1 de setembro de 2015

2º Festival de poesia ‘elitizada’de Palmas

A segunda edição do festival de poesia falada realizada pela prefeitura de Palmas poderia mudar de nome – em vez do atual, poderia passar a se chamar – festival de poesia elitizada. Um nome bem mais apropriado diante de uma burocracia exagerada para se inscrever e participar do evento.

É inegável a importância de um festival de poesia em um estado onde não há uma grande tradição literária. Onde os poetas e os amantes da poesia têm pouco espaço e incentivo para produzir e divulgar sua arte. Nesse sentido não há como negar a importância dessa rara exceção. Exceção mesmo já que não há no Tocantins e até mesmo no resto do Brasil um festival de poesia com uma premiação interessante.

Não que a premiação de mais de 27 mil reais seja o que dá importância ao festival, o importante é ter um espaço para os poetas e os amantes da poesia divulgar sua arte – e assim fortalecer a poesia feita no Tocantins, bem como despertar o gosto pela leitura de poesia em novos leitores e, por conseguinte formar novos poetas. Porém não podemos negar a importância da premiação que com certeza é um grande incentivo para os poetas tocantinenses produzir, publicar e divulgar suas obras.

Porém quem lê o edital do 2º festival de poesia falada de Palmas em vez de se sentir estimulado a participar logo se desanima. É tanto documento, tanta exigência, tanta burocracia que desmotiva qualquer um. Ora, para que tanta burocracia para se inscrever num festival de poesia falada? Para que tanta documentação? Até parece que vamos abrir uma firma. Os organizadores deste festival só podem esta com a cabeça no século passado. Se utilizassem minimamente os meios tecnológicos que temos hoje, 90% da burocracia existente no edital seriam evitadas.

Tanta burocracia só tem um sentido – elitizar o festival de poesia falada. Pois serão poucos que terão condições para correr atrás de tanta documentação para se inscrever. Nesse sentido poucos poetas populares, sobretudo no interior do Tocantins terão condição de participar. Pois conhecendo bem a realidade de quem faz poesia, sobretudo poesia popular, não tem condições estruturais para atender tantas exigências burocráticas.

A que serve um festival de poesia elitizada? Com certeza não é para fortalecer os poetas e muito menos a poesia feita no Tocantins. Quanto mais democrático for o festival melhor para a literatura tocantinense – pois só um festival verdadeiramente democrático possibilita o surgimento de novos poetas, sobretudo poetas populares como também novos leitores de poesia. Com este modelo de festival elitizado e burocratizado não conseguiremos fortalecer os poetas e a poesia feita no e do Tocantins.

Quem tiver saco para atender tanta burocracia boa sorte. Eu não tenho. E como protesto não irei participar do mesmo. Quem sabe numa futura edição?! Espero que nas próximas tenhamos um festival menos burocrático e mais democrático.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, escritor e educador popular